"Homem tem que ser honrado. Homem tem que ter caráter".
Há algum tempo decidi comigo que não quero ser homem seguindo fórmulas ditadas pela sociedade. Não quero ter que provar que sou homem tendo alguma virtude específica. Pra mim não faz sentido associar masculinidade a um conceito fechado.

Até mesmo o conceito científico de masculino e feminino é polêmico. Fatores mutagênicos e taxas hormonais no feto influenciam a formação do corpo e, mais importantemente, o cérebro e o comportamento. Existem centenas de condições que podem marcar um indivíduo, de modo que ele nem sempre se encaixa psicologica e socialmente em conceitos e funções sociais e na maioria das vezes nem se trata de caso patológico. Às vezes a pessoa é, simplesmente... diferente.
Se o lado biológico parece complexo, imagina o social. Eu me considero honrado. Até carater eu acho que tenho. E definitivamente não sou modesto. Acho que modéstia é, mais das vezes, uma auto-diminuição. Prefiro dizer claramente que gosto dos meus pontos fortes e que tento reconhecer minhas limitações.
O engraçado é que mesmo assim acabo não sendo homem da maneira que as pessoas esperam. Desde que fiz minha escolha, as mulheres vem me estranhando. As amigas ficaram se questionando genuinamente se sou hetero, homo ou bi. Acho isso legal, pois quero deixar as pessoas confusas. Isso faz com que elas revejam conceitos e larguem os rótulos.

E pra mim tem se tornado desgastante ter que ficar dando demonstrações dessas virtudes pra provar, pra garota que eu quero conquistar, que eu sou homem e que preencho os pre-requisitos. Eu sei que preencho e ela deveria buscar coisas além disso. Ou melhor, não era isso que eu deveria fazer pra provar que sou homem.
Parece que não está bastando, pras minhas amigas ou pras pretendentes, eu ser fissurado em filmes de guerra, policiais, de ação, acompanhar a F1, os campeonatos de vale-tudo e rally internacional que rolam na tv, de ter gigabytes de mulher pelada no computador, ter algumas noções acadêmicas sobre guerra e gostar de armas antigas e modernas. Não sei se é porque eu não faço questão de ressaltar esses detalhes.
Acho que é porque não me limito a isso. Só porque fiz um pouco de teatro e tenho algum talento de observação e sei fazer mulheres e homossexuais caricatos. As vezes a brincadeira vai longe. Quando os amigos fazem piadinha de chamar de gay, eu avacalho - falo (sério) que o sfincter esta dolorido. E não só isso. Finjo perversão tambem (na verdade, o perversão deveria estar entre aspas, mas isso é assunto pra outra ocasião).

Às vezes me sinto numa trilha solitária. Na mesma medida em que essa sede de quebrar com o convencional me impele, sinto o isolamento que é preciso ser dado como tributo do caminho herético. E ultimamente o que mais me desgasta é a necessidade imposta de eu ser o homem convencional pra poder pegar mulher. As mulheres exigem isso.
A mulher média é machista. Acho que sou moderninho demais.