29 de mai. de 2010

Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez



Enquanto o que aqui vos fala aguarda do governo e da justiça o fornecimento do remédio para a doença rara e progressiva, os ilustres parlamentares se lambuzam com o tacho de doce. Raspam o fundo e até lambem a colher.

Porque será? Ói qui procê vê...

Aqui no DF, assim como o pessoal que depende da farmácia de alto custo para as medicações imprescindíveis vem sofrendo com a escassez na Saúde, eu também estou no mesmo barco. Só que no meu caso nem é por falta de verba. É pura apendicite política, mesmo. Essa crise no GDF (Governo do Distrito Federal, para quem não está acostumado) reverbera e gera novas consequências até hoje.

Não vi uma alcunha mais apropriada. A operação Caixa de Pandora botou expostas as entranhas desconhecidas do GDF.

Exemplo 1: o cofrinho do BRB
Descobriram que o governo Arruda investiu R$ 238 milhões em uma conta no fundo de investimento do Banco de Brasília, que é um banco público aqui do DF. Sabe de onde veio esse dinheiro? Foi tirado da Secretaria de Saúde. Não caiu a ficha? Então eu explico em pormenores: essa verba é pra ser investida em remédios, profissionais, equipamentos, treinamento e atendimentos. Só que ao invés disso estava sentadinho, crescendo a zero vírgula não-sei-quanto por mês no banco. É o seguinte: governo não é entidade financeira! Governo é germinador de investimentos e deve aplicá-los diretamente, pra provocar o retorno em crescimento real, e não financeiro!

Exemplo 2: farmácia de alto custo
Devido a saída do governador José Roberto Arruda (também conhecido aqui no planalto central como Gargamel) do governo, a máquina estatal sofreu uma parada. Ou melhor, uma convulsão. Obras e serviços começaram a falhar, em parte porque a pressão da opinião pública e da mídia para que se fizesse uma assepsia forçou a substituição do comando de todas as pastas do GDF. E esses recem-nomeados queriam mostrar serviço: cortar gastos suspeitos, ou no mínimo supérfluos reorganizar o quadro de servidores, além de passar um pente-fino nos contratos e licitações que pareciam duvidosos. E esses novos ocupantes chegavam frescos ao setor, o que provoca uma natural fase de adaptação. Até se sentirem a vontade, não exercem a função com desenvoltura. Então muitas licitações das quais dependia a farmácia de alto custo para adquirir as medicações e assim suprir seus estoques deixaram de ser renovadas.

Daí o pandemônio que vem ocorrendo desde janeiro deste ano. Uma multidão de pacientes injustiçados passou enfim a vocalizar as queixas com maior eficácia. Foi noticiado Brasil afora: chegou a faltar esparadrapo nos hospitais. Além disso, a má gestão herdada dos períodos anteriores era tamanha que ocorriam furtos generalizados de medicação e equipamentos por parte dos próprios funcionários.

Ai do governo Rogério Rosso, que cumpre o período de transição até as próximas eleições. Terá que demonstrar comprometimento. E com essa herança, não será facil; sabe o que ele vai ter que descarcar?

Exemplo 3: a farra dos comissionados no GDF
Sabe quando eu falei do tacho de doce lá em cima? Pois é, olha o tamanho dele: R$ 4, 36 milhões por mês. Uns enfiavam o dedinho. Outros vinham com a colherada. E quem é acusado de ter carregado é o Gargamel. Uma maneira de formar a base aliada é usar os cargos comissionados como moeda de troca.

Exemplo 4: o Instituto Candango de Solidariedade (Alheia)
Segundo o inquérito, daqui veio parte dos maços de dinheiro que vemos nos famosos vídeos da operação Caixa de Pandora: para a meia de Prudente, a bolsa de Eurides Brito e a oração dos corruptos. Por meio de contratos irregulares, a cúpula sugou dinheiro público. A fórmula é simples: você, que é um político comandando a máquina, chama um empresário e fala "eu vou te pagar muito além do normal pelos serviços necessários e tambem contratar sua empresa pra serviços desnecessários e em troca você me devolve noventa por cento do bolo". E esse bolo teria sido usado pra comprar os aliados políticos e estes, por sua vez, usavam o dinheiro pra financiar as próximas eleições, assegurando o futuro no poder e fechando, assim, um ciclo perpétuo.


Resumo da Ópera
Eu não tenho meu remédio porque o GDF virou uma zona e nenhum burocrata que assinar a deferimento, sendo que a verba já foi separada bonitinho pra isso.



E aqui vai a minha mensagem. No tom dos Paralamas.











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Fontes:
doença de Pompe: link  1; link 2
o cofrinho do BRB: link (fonte original: CartaCapital)
farmácia de alto custo: link (fonte original: Correio Braziliense)
a farra dos comissionados no GDF: link
o Instituto Candango de Solidariedade (Alheia): link 1 (fonte original: Correio Braziliense); link 2

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